A comida esfria no Brasil

O país fabrica e compra menos comida. Os maus resultados gerais do comércio e da indústria se devem em parte maior a uma pane nas vendas dos supermercados e ao que se pode chamar francamente de recessão na indústria de alimentos.

A degringolada firme começou depois da metade do ano passado, quando o país era ainda mais avacalhado pelo paradão caminhoneiro. A derrocada continua. O resfriado se disseminou por outros setores da economia.

Em agosto de 2018, as vendas do que o IBGE chama de “hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo” cresciam a 4,8% ao ano. Em março passado, cresciam a apenas 1,9%, dado mais recente, divulgado nesta quinta-feira (9). O povo ainda compra mais remédios, mas gasta menos no mercado. O aperto é evidente.

Comparado o primeiro trimestre deste ano com o de 2018, houve queda de 0,9% nas vendas de “hipermercados etc.”. No comércio em geral, ainda há alta de 0,3% (excluídas vendas de veículos e material
de construção).

O indicador da Associação Brasileira de Supermercados, obviamente menos amplo que o do IBGE, não vai tão mal, mas não vai nada bem: alta de apenas 0,4% nas vendas do trimestre.

Na semana passada, soube-se que a produção anual da indústria voltou ao vermelho, regredindo 0,1% em 12 meses, baixa que não se via desde agosto de 2017.

A indústria de alimentos já voltara a andar para trás em agosto de 2018. Em março, encolhia horríveis 5,7% (no acumulado de 12 meses). Não se quer dizer assim que:

1) os dados indicam que as pessoas passem fome em regra, embora muita gente esteja faminta, basta andar pela rua ou visitar alguns bairros periféricos de São Paulo para ver;

2) obviamente, vendas e produção de comida não explicam a pane da economia, o que seria uma bobice, mas são um sintoma doloroso.

Trata-se apenas de registrar que o resfriamento da economia é bem pronunciado nesses setores que têm o maior peso na indústria e no comércio de varejo restrito.

A recaída acompanha a desaceleração do crescimento da renda, a baixa da confiança econômica neste início do ano e a frustração do emprego formal, entre tantos outros indicadores, embora nem todos.

Curiosamente, o Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo, por exemplo, não parece piorar, embora a despesa de capital suba apenas uma escadinha no fundo das profundas da recessão.

De resto, o dado do Ipea é apenas uma tentativa de antecipar o resultado oficial do investimento em máquinas, equipamentos e novas instalações produtivas.

Pelo número de março, divulgado nesta semana, o investimento não teria piorado em relação ao trimestre final de 2019. Economistas de bancões, porém, estimam que o investimento não cresceu nada ou caiu no primeiro trimestre.

No mercado de dinheiro grosso para empresas, houve queda feia no primeiro terço do ano, segundo balanço da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Nos bancos, embora o crescimento das concessões de crédito para empresas também venha desacelerando desde setembro do ano passado, o total de dinheiro novo emprestado ainda cresceu 5,2% no trimestre (ante o primeiro trimestre de 2018).

Como foi abril? Os primeiros indícios são de queda nas vendas do varejo. Os indicadores de situação financeira (juros na praça, dólar, Bolsa etc.) não melhoraram. Os de confiança também não. Bidu.
 


 


 


 


 


 


 


 


 

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