'É incrível eu estar vivo', diz Danton Mello 20 anos após acidente de helicóptero

“De repente vi o chão se aproximando. Senti a porrada. Me lembro da pressão, de estar girando. E de acordar sei lá quanto tempo depois”, conta Danton Mello sobre o acidente de helicóptero que sofreu no monte Roraima há 20 anos, no dia 14 de setembro de 1998. 

 

“Às vezes parece que foi um sonho. Mas eu vivi isso mesmo. É foda”, afirma o ator, que viajava com uma equipe do programa “Globo Ecologia”, do qual ele era apresentador. Um operador de rádio morreu. “Penso anualmente que tantos anos atrás, às oito horas da manhã, eu estava caído, quase morrendo, com hemorragia.” O resgate veio 30 horas depois da queda da aeronave. 

 

“E, pô, é incrível eu estar vivo, aqui, bem, saudável. Ter minhas filhas, estar trabalhando pra caramba”, celebra Danton. “Mostra que a vida, cara, tem que aproveitar. A gente não sabe mesmo o dia de amanhã. Não dá pra deixar pra depois.”

 

Ele cita o aniversário da filha Alice, que completaria 15 anos dali a alguns dias.  

 

“Vou arrumar uma brecha no trabalho, tenho que ir. Não posso falar: ‘Depois eu passo o Natal com ela’. Não sei nem se vou estar vivo no Natal”, diz. Ela e a outra filha de Danton, Luiza, 17, moram há três anos na Califórnia com a mãe, a escritora Laura Malin, com quem ele foi casado de 1993 a 2005. Hoje Danton vive com a empresária Sheila Ramos.

 

“Sofri muito pra deixar elas [as filhas] irem [viver fora]. Já estava separado da mãe, mas tínhamos uma boa relação. Era livre acesso, sabe?”, afirma. “Eu passei quase dois anos desesperado. De ir gravar com o olho inchado porque ficava a noite chorando. As minhas filhas, que eu via sempre, de repente foram pra longe.”

 

“Depois de muita terapia, fui me acalmando. Pensei: ‘Não posso pensar em mim, querer que elas fiquem debaixo das minhas asas. A gente cria filho pra vida. E vai ser uma experiência legal para elas”, avalia o ator, que vai “no mínimo uma vez por ano” visitá-las. “Não aguento ficar longe delas.”

 

Danton também diz ser muito próximo do irmão, o ator e diretor Selton Mello, dois anos mais velho que ele. “A gente torce muito um para o outro. Somos muito unidos”, diz. “Gosto de tudo o que o Selton faz”, afirma. “E ele me incentiva muito.”

 

Segundo Danton, os dois são frequentemente confundidos. “A gente andando na rua, ninguém sabe quem é quem [risos]”, conta. “Agora que começou o ‘Dança [dos Famosos’, quadro do Faustão do qual Danton participa], o Selton me falou que onde vai as pessoas falam: ‘Você tá dançando pra caramba!’ E ele: ‘Pô, não sou eu. É o meu irmão’ [risos].”

 

“O Selton dirige desde pequeno. Nas brincadeiras com Playmobil ele já falava: ‘Você entra aqui, fala isso’”, conta Danton. “E eu era um terrorista”, segue. “Ia pra rua, sumia. Inclusive, eu nasci ‘Dânton’”, diz, enfatizando a primeira sílaba do seu nome. “Mas virei ‘Dantôn’ porque minha mãe não conseguia me dar bronca gritando ‘Dânton’. Era: ‘‘Dantôn’, para! [risos]” 

 

O nome de Selton é “uma mistura do nome do meu pai, Dalton, e da minha mãe, Selva”. “Quando eu nasci, o meu pai falou: ‘Vamos botar Danton, para não ficar Dalton Jr.”, conta o caçula. “Eu às vezes brinco e falo que meu pai botou em homenagem ao [Georges Jacques] Danton [advogado atuante] da Revolução Francesa, mas não é nada disso [risos].”

 

Nascidos em Passos, Minas Gerais, ele e o irmão foram criados em São Paulo. Quando Danton tinha cinco anos, sua família se mudou para o Rio. 

 

“O Selton, com seis ou sete anos, cantava e tocava violão. Ele pediu para a minha mãe levá-lo num programa de calouros da época. E ela levou [risos]. E gostaram dele, ele mandou bem —o Selton é muito talentoso, um geniozinho. Aí convidaram mais uma vez.”

 

“Numa dessas vezes a gente conheceu uma senhora que tinha uma agência de elenco infantil. E ela falou: ‘Dá foto desses dois fofinhos e vamos botar eles pra fazer comercial’. E as coisas foram acontecendo assim. A gente fez muito comercial aqui em São Paulo, de 1980 a 1984. Foi tudo por acaso.”

 

“Aí o Selton fez uma novela na Bandeirantes que o Jayme Monjardim dirigiu. E ele depois convidou meu irmão pra fazer ‘Corpo a Corpo’ (1984), na Globo. Meus pais acabaram mudando pro Rio por causa dele, desse convite. E assim que a gente chegou lá, o Herval Rossano estava montando o elenco da [novela] ‘A Gata Comeu’ (1985) [da qual Danton integrou o elenco]. Então foi acontecendo.”

 

Ele não é formado em teatro. “Não fiz faculdade, não tenho teoria. Aprendi observando os grandes atores desse país. E fazendo, me arriscando e errando”, diz. “Mesmo mais velho, quando pensei ‘o que eu quero fazer da vida’, falei: ‘Poxa, como assim o que eu quero fazer da vida? Eu já faço’”, afirma. “Não tem nada que eu pense que possa me dar tanto prazer quanto estar em cena.”

 

Danton atua no filme sobre a vida de Hebe Camargo, que estreia em 2019. Neste mês, ele também volta a gravar o humorístico “Tá no Ar”, da Globo, que chega à sexta temporada. “Se tiver um texto, um bom diretor, eu faço graça. Mas não me considero um humorista ou comediante. Eu não sei contar piada [risos]”, diz o ator, que se define como “risofrouxo” por rir facilmente. “Eu odeio improvisar. Sou cartesiano. Gosto de ensaiar, de saber o que vai acontecer. Não gosto de surpresa.”

 

Ele acha “o maior barato” participar do “Dança dos Famosos”. “É uma competição, mas estou lá para me divertir. Para crescer como artista. Conhecer mais o meu corpo e usar isso depois no meu trabalho”, explica. “Estou todo dolorido”, brinca, referindo-se aos ensaios das coreografias apresentadas na atração. 
Danton também faz dublagens. É dele a voz de Jack, personagem de Leonardo DiCaprio no filme “Titanic” (1997). “Todo filme que chegava do Leonardo me chamavam para dublar. Mas era difícil conciliar [com outros trabalhos], então não fiquei a voz oficial dele no Brasil. Adoraria ter ficado. Se encontrasse ele diria que fui a voz dele [risos].”

 

A entrevista começou no parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo, local que o ator diz ter frequentado muito quando criança. De lá, ele seguiu de Uber com o repórter até o estúdio onde foram feitas as fotos. No caminho, o carro passou pela rua Boa Vista, no centro de São Paulo.

 

“Olha ali o Impostômetro”, aponta Danton para o painel da Associação Comercial de SP que mostra a quantia de tributos arrecadada no ano. “Quanto tá? Um trilhão? E vai dizer que não tem dinheiro para a saúde? Para pagar bem os professores? Dá um desânimo.”

 

Ele diz não ter “muita esperança” com as eleições. “Que o menos pior assuma. Não boto a minha mão no fogo por ninguém em Brasília. Direita, esquerda ou centro, não confio em nenhum deles. Espero que quem for eleito faça algo. Deixar de roubar, investir em educação, saúde, segurança. Retornar esse dinheiro que a gente paga de imposto, né?”

 

Danton não votou no primeiro turno porque viajou para o aniversário da filha. “Vamos ver no segundo. Uma coisa que eu não faço é anular voto. Alguém vai ser eleito, então não adianta. Alguém tem que ser presidente do país.”

 

Sobre o Rio de Janeiro, onde vive, ele diz estar “muito estranho”. “Mas não deixo de fazer nada”, afirma. “Moro na Gávea. Às vezes tá muito trânsito e passo pela Rocinha. E tem gente que acha isso um horror. Dizem: ‘Você não tem medo?’ Eu falo: ‘Posso tomar bala perdida na Rocinha, na linha amarela ou na Vieira Souto [em Ipanema]. É surreal pensar que é assim que está o Rio.”

 

O ator era sócio do restaurante Restô, em Ipanema. “Deu certo durante dez anos. Mas a gente infelizmente fechou. As pessoas têm medo de sair, tem a crise econômica”, conta. “A gente não aguentou por causa do país mesmo. Ser empresário no Brasil hoje... é difícil, cara.”

 

Mas ele não quer sair do país. “Gosto muito do Brasil. Passaria um tempo no exterior por experiência. Mas tentar a vida fora, não. Quero contar a nossa história, falar com os brasileiros. Nosso trabalho também vai pro mundo. Fazer Hollywood? Pra quê? Vou pra Los Angeles pra ver as minhas filhas.” 

 

O carro chega ao destino. Danton desembarca e acende um cigarro. Quando termina, apaga-o na sola do tênis e procura uma lixeira para descartar a bituca. Em seguida, entra no prédio e pega o elevador para chegar ao estúdio fotográfico. 

 

“Você parece aquele rapaz que dança na TV”, diz a ascensorista, fitando-o. “E você acha que ele está indo bem?”, pergunta Danton. “É você!”, conclui a mulher. “Sou eu”, responde o ator, sorrindo. “Outro dia foi o seu irmão que veio aqui”, diz ela, que em seguida pede uma foto. Danton lidera a “Dança dos Famosos”. “Quero torcida, hein?”, despede-se.

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